Jornal Ação 261

50 ANOS DO PRIMEIRO CONCURSO NACIONAL DE MULHERES NO BB Graça Machado Vice-presidente Administrativa e Financeira | graca.machado@anabb.org.br D as grandes lutas que vivi no Banco do Brasil, uma delas sem dúvida permeia toda a minha vida profissional mesmo depois de aposentada: a inclusão da MULHER no BB. Não se trata apenas de lembrar que há 50 anos ocorreu o primeiro con- curso nacional que permitiu o ingresso de mulheres na carreira do Banco. É muito mais que isso: eu vivi essa história, assim como milhares de outras cole- gas que fizeram e fazem parte do quadro do Ban- co, lutando para que as portas da renovação e do reconhecimento estejam cada vez mais abertas. Sou do primeiro concurso, de 1970, e fui chamada para tomar posse em junho de 1971. À época, cur- sava o último ano de Engenharia e solicitei ao BB de Campina Grande que adiasse minha posse até o término do curso. A resposta do chefe do Banco foi um tanto intrigante: “minha filha, você vai trabalhar na melhor universidade do mundo. Portanto, não vai precisar terminar seu curso de Engenharia”. Inconformada com a resposta, viajei 48 horas de ônibus para pleitear meu direito na sede do BB no Rio de Janeiro. Em meio ao encantamento de conhecer a cidade grande, o lindo prédio do Banco e enfrentar aquela situação tão nova, a mocinha de Campina Grande conseguiu falar com um então diretor do BB, que me respondeu: “volte para casa tranquila, pois sua posse será adiada para janeiro”. A presença feminina nos ambientes tradicional- mente masculinos do BB agregou alegria, beleza e competência, e exigiu muita adaptação. Prédios tiveram de ser readequados e banheiros foram construídos para receber as novas funcionárias. Mas nem tudo são flores. Acredito que o BB poderia ser exemplo de um bom programa de equidade de gênero, porém, 50 anos depois, o assunto ainda é tema sensível na insti- tuição. Hoje as estatísticas são amargas: as mulheres são 42% do total de funcionários do BB e ocupam apenas 10% dos cargos de governança. Entre avanços e retrocessos, tive de lutar muito. Em 1974, a agência de Araguaína, em Tocantins, passou pelo processo de migração para máquinas de NCR e eu, como responsável pela escrituração de conta-corrente, pequenas contas e fundo de garantia, precisava ter uma certificação para operar a máqui- na. Fui impedida de fazer o curso com o argumento de que a certificação não era para mulheres. A luta foi grande e chegou a ser julgada na direção-geral de Brasília. E fizemos o curso: eu e todas as mulheres que precisavam da certificação. Outro episódio ocorreu alguns anos depois, quando concorri a um cargo comissionado – saindo de Ara- guaína para Areia, na Paraíba. Mais uma vez, um paredão masculino formou-se e o então gerente não aceitou que uma mulher fosse nomeada para a função. Mais uma batalha e uma nova luta vencida. Assumi o cargo e acabei me tornando grande amiga desse mesmo gerente. Minha história continuou sendo feita por conquistas e contratempos. Sem nunca desistir, mantive a luta em favor do trabalho das mulheres no Banco. Tenho orgulho de ter sido gerente-geral, superintendente adjunta e regional e diretora eleita da Cassi. Hoje o que alcançamos é fruto da luta que cada mulher viveu. Uma luta que pode até ter sido solitária, mas se refletiu em conquistas coletivas. É necessário que a meritocracia seja parâmetro na gestão do Banco. As mulheres precisam ser cada vez mais valorizadas no trabalho e em suas competências. Gostaria de incentivar as jovens colegas que estão hoje na labuta do Banco do Brasil. Diria de coração: continuem lutando, não se deixem abater, não se en- colham. O BB é um gigante que tem espaço para o equilíbrio justo e por merecimento para homens e mulheres. Continuem acreditando, colegas, na com- petência e no vigor que cada uma carrega. Essa áurea positiva que nos acompanha é o que nos permite alçar novos e novos voos. Segue uma inspiração para as Marias guerreiras: “Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria” anabb @anabbevoce anabb.org.br 0800 727 9669 ou (61) 3442 9696 - de segunda a sexta, das 7h às 19h OPINIÃO DA DIRETORA Acesse a íntegra da música de Milton Nascimento e Fernando Brant.

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