“O Banco do Brasil é como se fosse os olhos e os braços do governo”, disse o ex-Ministro
A ANABB realizou, nesta quarta-feira (10/6), entrevista bastante esclarecedora com o economista, professor e ex-Ministro da Fazenda, Delfim Netto, sobre a importância do Banco do Brasil e seu papel para o desenvolvimento econômico do Brasil.
Com grande conhecimento e experiência, o ministro, que também já foi deputado federal, destacou, de forma clara e objetiva, a relevância que sempre foi atribuída ao Banco do Brasil como o mais eficaz instrumento de governo para promover o crescimento do País.
“Fiquem tranquilos, funcionários do Banco do Brasil, cumpram o seu papel, porque a história está do lado do Banco”, disse o ex-ministro.
Veja os principais trechos da entrevista:
BB AJUDA A CONHECER A REALIDADE DO BRASIL
Há uma grande incompreensão sobre o papel do Banco do Brasil. O BB é um instrumento complementar e operacional às informações do mercado para o ministro ter conhecimento da realidade nacional. Isso significa que o BB é o governo em todo o Brasil e, com ele, eu conseguia saber o que estava acontecendo na economia. O Banco do Brasil era os meus olhos, era os meus braços. Se quiser ficar cego e amputar os braços, venda o BB.
SEM O BB O PAÍS NÃO TERÁ SUCESSO
Ignorar o BB como instrumento de informação administrativa é tolice gigantesca. A ideia de privatizar é idiota, de uma pessoa que não conhece o Banco do Brasil, nunca entrou nele, não entendeu seu papel. Desde 1964, o Banco se transformou em um instrumento efetivo de desenvolvimento e exerce papel decisivo na economia do país. O governo que não sabe usar as informações do BB para administrar o País não terá sucesso.
PRIVATIZAÇÃO
A burrice do governo não tem limite inferior. A privatização do Banco do Brasil é um ato político, que precisa da maioria do Congresso Nacional. Têm deputados e senadores que entendem o Brasil, que viveram o que o Banco do Brasil faz. Vai haver um embate sobre a privatização.
BB CONTRIBUI PARA SOLUCIONAR OS PROBLEMAS
Quando o administrador acha que sabe tudo e que não precisa da informação empírica, ele não sabe usar o Banco do Brasil. O BB não é um simples banco. Ele pode ser mobilizado instantaneamente para qualquer problema emergente do Brasil. Os funcionários do BB são um verdadeiro exército. Por isso, os prejuízos de uma privatização são enormes. Não é uma vontade de uma burocrata que vai fazer isso. Essa é uma decisão da sociedade brasileira, por meio de uma autorização do Congresso Nacional.
AGROINDÚSTRIA
Eu fico muito triste quando eu vejo que o governo é incapaz de entender que o Banco do Brasil está ramificado em todo o País. Sua eficiência ninguém põe em dúvida, o Banco não podia viver de subsídios, o BB construiu sua independência e continuou sendo o mais importante financiador do mais importante setor da economia brasileira, que é a agroindústria, que hoje representa cerca de 30% do PIB, que só existe por essa combinação de dois entes estatais - o Banco do Brasil e a Embrapa.
BANCOS ESTRANGEIROS
Os bancos estrangeiros que vieram para o Brasil saíram daqui anões. Sobreviveu o Santander porque está se nacionalizando. Os privados são eficientes, mas não são instrumentos do governo. O BB, sim, é um instrumento de governo.
FUNCIONÁRIOS
O BB só resistiu porque soube internamente se educar. Sempre houve cursos internos, a promoção é por mérito. As pessoas confundem o BB com uma repartição pública, mas a competição interna no Banco é furiosa. Você não arranca um parecer de um funcionário do BB, porque sabe que tem consequências. Nos primeiros concursos do Banco, em 1967, nós recolhemos a inteligência nacional.
CRÉDITO PÚBLICO E RENTABILIDADE
Rentabilidade nesse momento é secundária. O Banco do Brasil é sociedade anônima, sendo o governo o controlador e majoritário. O BB deve obedecer todas as decisões do Banco Central, estar na ponta mostrando aos seus clientes que será o primeiro a aplicar decisões do BC. Ele que vai dar exemplo para os bancos privados, não vai ter problemas para correr risco. Somos instrumentos auxiliares da administração.
ÓRGÃOS DE CONTROLE
Todos os poderes têm que ter controle. Fico triste quando vejo pessoas falando coisas que não sabem. Volto a insistir que privatizar o BB não é decisão de economistas nem de banqueiros, é uma decisão politica que só pode ser produzida pelo Congresso Nacional. É lá que está a vontade do povo.
Veja o vídeo com a íntegra da entrevista exclusiva com Delfim Neto